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Juliana Marins teria morrido 20 minutos após uma das quedas

Médico forense responsável pela autópsia afirma que não há sinais de hipotermia nem de longa sobrevida. Juliana sofreu trauma severo no tórax ao cair de encosta rochosa

Juliana Marins, de 26 anos, foi encontrada morta; brasileira fazia uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia (resgatejulianamarins/Instagram)

Juliana Marins, de 26 anos, foi encontrada morta; brasileira fazia uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia (resgatejulianamarins/Instagram)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 27 de junho de 2025 às 06h50.

Última atualização em 27 de junho de 2025 às 18h48.

O médico legista responsável pela autópsia da brasileira Juliana Marins, de 26 anos, afirmou nesta sexta-feira, 27, que não há qualquer evidência de que a jovem tenha agonizado por horas ou dias após cair no Monte Rinjani, na Indonésia. A informação foi divulgada em entrevista coletiva no Hospital Bali Mandara, em Denpasar, onde o corpo foi examinado.

Segundo ele, Juliana teria morrido em até 20 minutos após uma queda. Apesar das explicações do legista, algumas questões seguem sem esclarecimento. Não se sabe exatamente qual queda provocou as lesões mortais, nem o local preciso em que ela ocorreu ou o horário exato da morte.

Juliana sofreu a primeira queda por volta das 6h (horário local) no sábado, dia 21, ou seja, 19h (de Brasília) de sexta-feira, dia 20. Horas depois do acidente, com auxílio de um drone, turistas captaram imagens em que a jovem aparece com movimentos, como mexendo as mãos. Na segunda-feira, autoridades da Indonésia detalharam como localizaram a turista, apontando que havia sido monitorada "com sucesso por um drone" e permanecia presa em um penhasco rochoso a uma profundidade de cerca de 500 metros, "visualmente imóvel".

Qual foi a causa da morte de Juliana Marins?

A causa da morte, segundo a autópsia, foi um trauma torácico grave provocado por impacto de "violência contundente", o que teria provocado grande hemorragia interna e danos irreversíveis aos órgãos respiratórios a partir das fraturas ósseas.

— Trabalhamos com fatos. E os fatos indicam que a vítima não sobreviveu por muito tempo depois do trauma — disse o legista Dr. Ida Bagus Putu Alit, ao comentar as especulações levantadas nas redes sociais sobre o vídeo em que a jovem aparece se movimentando após a queda.

O médico explicou:

— Estimamos que, no máximo, 20 minutos depois do trauma, ela já não apresentava mais sinais vitais. Não há sinais de hipotermia ou sofrimento prolongado após a lesão. A causa direta da morte foi o impacto e a quantidade de sangue acumulado dentro da cavidade torácica.

O corpo de Juliana Marins chegou ao Hospital Bali Mandara, na ilha de Bali, por volta das 11h35 (horário de Brasília) da última quinta-feira, onde foi submetido a autópsia. O translado foi feito por ambulância a partir do Hospital Bhayangkara, localizado na mesma província do Monte Rinjani, uma vez que a região não dispõe de especialistas forenses habilitados para conduzir o exame. O procedimento foi realizado ainda na noite de quinta-feira.

— Observamos, por exemplo, um ferimento na cabeça, mas sem sinais de hérnia cerebral — uma condição que costuma se desenvolver após várias horas ou dias do trauma. O mesmo se aplica ao tórax e ao abdômen: houve sangramento intenso, mas nenhum sinal de retração nos órgãos que indicasse hemorragia lenta. Esses elementos reforçam que a morte aconteceu logo após os ferimentos — explicou o especialista.

O que autópsia de Juliana Marins revelou?

O laudo médico aponta que Juliana sofreu um forte impacto nas costas, o que causou danos graves na região torácica e provocou um sangramento volumoso dentro da cavidade torácica. As lesões foram identificadas principalmente na parte posterior do tórax, afetando órgãos essenciais para a respiração. Segundo o legista, trata-se de um trauma contuso, que ocorre com lesões causadas por impactos violentos e quedas, por exemplo, sem que haja perfuração da pele, em que explicou que um "objeto contundente é qualquer coisa com superfície relativamente lisa e sólida".

— Foi uma morte causada por violência contundente. O trauma gerou uma hemorragia significativa que levou à morte em um curto intervalo de tempo — explicou Alit. Foram encontradas, ainda, escoriações por atrito, causadas no corpo quando é arrastado ou sofre outro tipo de contato com superfícies duras.

O legista ressaltou que não foram identificadas marcas ou sinais compatíveis com hipotermia, o que exclui a possibilidade de que ela tenha morrido devido à exposição ao frio.

Juliana estava vestindo apenas calça jeans, camiseta, luvas e tênis no momento do acidente, roupas leves, consideradas inadequadas para as temperaturas abaixo de 10 °C em altitudes superiores a 2.600 metros. No entanto, os médicos afirmaram que não havia necrose, escurecimento ou danos típicos de hipotermia nas extremidades do corpo, como dedos das mãos ou dos pés.

— Não havia os sinais clássicos de hipotermia, como necrose nas extremidades ou coloração escura nos dedos. Isso nos permite afirmar com segurança que a hipotermia não foi a causa — detalhou o perito. — Não havia. A causa direta foi o impacto — reforçou.

O médico ainda negou haver chance de a morte ter sido causada por falta de comida ou água:

— A causa direta da morte foi, com certeza, o trauma. Houve grande quantidade de sangue na cavidade torácica, o que não se explica por inanição.

Quando Juliana morreu?

Um dos pontos que segue sem explicação é quando Juliana morreu. Embora Alit afirme que o óbito tenha ocorrido até, no máximo, 20 minutos após uma queda, não se sabe quando ela ocorreu. Foram quatro dias de busca e de trabalho de resgate. Neste período, a brasileira era encontrada em diferentes pontos do vulcão, cada vez mais distante do local onde tinha caído. Sem especificar a data, o legista disse:

— A morte ocorreu entre 12 e 24 horas, com base nos sinais de rigidez e coloração do corpo. Mas não podemos descartar interferências anteriores, como o corpo ter sido colocado em ambientes que retardam esses processos.

Questionado pelos repórteres presentes na coletiva sobre quando teria ocorrido esse intervalo de tempo — se antes do resgate ou após uma das quedas —, o legista respondeu: “Antes das 22h05”. No entanto, não fica claro a que dia ele se refere. Juliana caiu no Monte Rinjani na manhã de sábado, dia 21 (horário local), e o corpo foi resgatado quatro dias depois, na tarde da última quarta-feira.

Em entrevista à BBC Indonésia, o médico legista afirmou que, pelos seus cálculos, a jovem teria morrido entre 1h e 13h da quarta-feira, dia 25 de junho (no horário local). A estimativa, no entanto, diverge da informação divulgada pela Agência Nacional de Busca e Resgate da Indonésia (Basarnas), que, um dia antes, na terça-feira à noite (horário local), a equipe de resgate encontrou a brasileira já sem vida. Quanto à divergência de informações, Ida Alit contou à BBC que "há uma diferença de cerca de seis horas em relação ao horário mencionado por Basarnas".

— Se o legista disser que a morte foi 12 horas após a primeira queda, isso é mentira. Temos relatos de turistas, registros, vídeos... muita coisa que comprova que a Juliana ficou viva por muito mais tempo. O ferimento fatal pode ter acontecido na última queda, já perto do resgate. Agora, se ele confirmar que foi entre 12 e 24 horas antes do resgate, isso muda tudo, diz muita coisa — afirmou Mariana, irmã da vítima, em entrevista ao GLOBO.

Informação pela imprensa

Em entrevista ao GLOBO, pai e irmã de Juliana afirmaram que souberam do resultado do laudo preliminar pela imprensa. A família, que está dividida entre o Brasil e a Indonésia, critica a falta de comunicação das autoridades locais. Segundo os parentes, nenhuma informação oficial foi repassada antes da coletiva do legista.

A família, que está dividida entre o Brasil e a Indonésia, critica a falta de comunicação das autoridades locais. Segundo os parentes, nenhuma informação oficial foi repassada antes da coletiva de imprensa do legista. Em entrevista ao GLOBO, Mariana Marins, irmã da brasileira, desabafou:

— Tudo o que eu sei, vi pela mídia. Em momento algum houve compaixão ou respeito suficiente para nos reunir e informar primeiro. Ficamos sabendo depois porque o legista quis seus 15 minutos de fama, mais um absurdo no meio de toda essa história.

Manoel, pai de Juliana, confirmou ao GLOBO que está em Bali aguardando novas informações, mas não foi acionado pelas autoridades para receber detalhes sobre a autópsia feita no corpo da filha. Ele diz que soube sobre o resultado também por meio de portais de notícia.

Com o laudo médico finalizado, o corpo de Juliana Marins será liberado para repatriação com o apoio da Embaixada do Brasil na Indonésia. A família da jovem, natural de Niterói, ainda não divulgou data para o velório ou sepultamento.

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